“A infância espelha a beleza que somos”

Por Damaris de Lima*

Em 17 de outubro de 2015 no auditório da Universidade Federal do Pampa – Campus Jaguarão, ocorreu o evento de exibição do documentário “Território do Brincar”. Este, contou com a participação de discentes, docentes, comunidade jaguarense e principalmente de crianças, as quais algumas protagonizaram cenas do filme.

Um auditório repleto de pessoas com diferentes faixas etárias, naturalidades distintas, costumes e saberes diversos, mas semelhantes pelas lembranças do ato de brincar. Várias regiões foram ilustradas no filme, o que contribui com o reconhecimento de gestos, atos, dialetos e artefatos por parte dos participantes.

A diretora do longa, Renata Meirelles, deu início a sessão relatando brevemente sobre o contexto de criação, as motivações, os resultados alcançados com o projeto, como filmes, livros, série de TV, uma exposição itinerante de brinquedos, dentre outros. Explicou que “todas as crianças devem brincar” e afirmou também que existem crianças fazendo as mesmas coisas em diferentes lugares do Brasil. No processo de produção do filme, os diretores, Renata e David Reeks, penetraram no cotidiano de crianças, ganhando de certa forma a confiança delas por meio da interação com as brincadeiras.

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Foto: Jessica Campos e Julio Felix**

O filme Território do brincar expôs crianças com classes sociais distintas, mas com brincadeiras parecidas. A maior parte das cenas se passam em ambientes externos, abertos. O chão, a terra, a areia, a grama, o solo em geral, fazem parte de seus cenários. Em diversos locais as crianças fazem uso de materiais simples, alguns encontrados na natureza, outros objetos descartáveis que são importantes para suas brincadeiras. De maneira singela transformam o invisível e inutilizado em algo valorizável. Vale destacar quão impressionante são os potenciais expostos no filme. Crianças inventoras, corajosas, persistentes em suas criações. Esbanjam criatividade e dedicação na construção de seus brinquedos. Reproduções de personagens do dia-a-dia, como mãe, pai, padre, cozinheiro, policial são também alguns dos costumes infantis.

Em todo tempo são elas as principais e únicas vozes escutadas no filme, o que desperta significativo encantamento pela obra. Convém apontar que as crianças apresentadas no documentário ilustram um pouco de cada indivíduo, desde os que assistiram ao longa até os que nem sabem de sua existência. Isto fica nítido na fala da diretora Renata Meirelles ao dizer que, “A infância espelha a beleza que somos”. Sendo que ao explorar esse território, mergulha-se em um imenso mar de representações do viver.

Risos, choro, emoção, mostra de identificações, admiração pela qualidade do trabalho exposto, e indignação com a falsa ideia de que as atuais crianças não brincam, foram fatos vistos entre as pessoas que acompanharam o documentário. O filme apontou que muitas crianças não precisam de brinquedos caros, tecnologia e jogos complexos para satisfazer seus desejos de divertimento e prazer.

Após a sessão, interessantes falas ecoaram pelo auditório, como: “Quero ser criança novamente!”, “Vamos fazer pipa e empinar no Cerro?”, “Queria tanto aquele brinquedo!”. Notou-se que muitos adultos demonstraram saudade da infância, de reviver o que hoje faz parte somente da lembrança. Memórias de vivências que todos deveriam ter, e consigo para sempre carregar.

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Foto: Jessica Campos e Julio Felix**

O brincar vai além do imaginar, consiste em cortar, colar, encaixar, pular, correr, jogar, criar, imitar, encantar e outras infinidades de fazeres e aprendizados. Sem dúvida o filme exibe pessoas de pequeno tamanho, mas que possuem grande poder de manter ativo o verbo brincar. Para tanto, enquanto existirem crianças, certamente as portas do mundo das brincadeiras não irão fechar.

 

* Damaris de Lima: aluna do bacharelado em Produção e Política Cultural da UNIPAMPA.

**Jessica Campos e Julio Felix: alunxs do bacharelado em Produção e Política Cultural da UNIPAMPA.